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O sucesso(r) de César

 

O anúncio por Carlos César de que não se recandidará à Presidência do Governo, no próximo ano, veio calar muitas vozes do PSD que, nos últimos tempos, temeram que isso acontecesse.

Vários «outdoors» da JSD divulgaram uma frase do líder do PS afirmando que não se recandidataria a novo mandato e algumas figuras social-democratas aprestaram-se a tomar a defesa jurídica da tese da incapacidade estatutária para o efeito, com que Cavaco pactuaria.

Ironicamente, os mesmos que desencadearam a campanha, vêm agora considerar que a decisão e substituição de César não lhes diz respeito...

Este episódio político – tal como a inesperada demissão de Mota Amaral, desejada por muitos – marcará um dos ciclos da história autonómica açoriana, a que não são indiferentes nem a opinião pública, nem os cidadãos eleitores em geral, nem os protagonistas dos aparelhos partidários.

Os partidos da oposição vêem a substituição de César por Vasco Cordeiro, político dinâmico e empenhado que ajudei a formar na adolescência, como uma oportunidade para a mudança.

Os militantes e dirigentes socialistas pretendem continuar no poder que, a muito custo, retiraram ao PSD após 20 anos de governação.

Uns e outros, presentemente, estão mais preocupados em ficar ou em conquistar os gabinetes da governação que interferem diretamente na vida quotidiana de uma região pequena como a nossa, dadas as fragilidades económicas e sociais.

A declaração de César é sinónimo de desapego ao poder, na lógica da ética republicana e, estou convencido, foi uma pedrada no charco da opinião pública, habituada a procedimentos diferentes. Interrogo-me, porém, acerca do porquê de a comunicação social nacional não lhe ter dado o devido destaque, nem a ter trazido a debate.

O mérito e o exemplo de Carlos César vão, certamente, ser aproveitados pelos socialistas para conquistarem nova vitória.

Penso, no entanto, que o líder socialista percebeu que devia, o quanto antes, dar lugar aos novos: porque têm novas ideias, novas formas de vida, novos valores que, juntamente com os valores tradicionais, constituem o esteio para uma nova ordem social e económica que, lenta e impercetivelmente, se começa a desenhar.

O que Carlos César pede aos novos protagonistas é que tragam à política regional disponibilidade e honestidade para servir o bem-comum, coragem para enfrentar desafios difíceis e a capacidade para interpretar os anseios dos açorianos, pois a região enfrenta as consequências de uma crise económica europeia muito profunda, originada pela fúria descontrolada dos poderes financeiros que escondem a sua ganância nos becos da globalização.

Os próximos plano e orçamento regionais englobam, estou certo, uma visão diferente, impensável, há três anos, quando o executivo tomou posse.

O atual Presidente do Governo pretenderá, pois, corrigir programas desadequados à nova situação orçamental e apontar novos rumos para a frágil e dependente economia destas ilhas perante uma crise profunda que abala a Europa e o Mundo.

A aposta no turismo, que teve em César o seu principal impulsionador, deve responder sobretudo às potencialidades que têm sido reconhecidas por entidades internacionais, continuando a apostar na formação dos profissionais do setor e envolvendo as populações como agentes importantes e informantes dos visitantes.

Na área da construção civil – há quem diga: «mais casas, não!» -  importa, porém, renovar o parque habitacional degradado das cidades e das zonas rurais, integrando parte dessas habitações no turismo, como sucede noutros países, e gerando mais empregos.

As infraestruturas da educação permitem antever novas  perspetivas nos domínios da investigação científica e da inovação tecnológica. Este deve ser o novo pilar de uma região com um potencial marítimo enorme, mas desaproveitado, e uma agricultura quase imune a doenças, o que abre caminho à agricultura biológica em grande escala. E outras apostas mais, na chamada economia tradicional, deverão surgir.

Não é tarefa fácil, sobretudo para quem está mais habituado a criticar procedimentos do que a apresentar medidas novas e arrojadas.

Os eleitores de todas as ilhas aguardam por novas soluções  credíveis e realizáveis que respondam aos novos tempos, não de pendor liberal e consumista que originou a crise atual, mas de pendor desenvolvimentista e solidário, integrando todos num projeto comum, promotor da equidade e da dignidade humanas.

É perante este desafio que as forças políticas estão colocadas.

O tempo de César está a terminar. A História o julgará.


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